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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Os Druidas de Valmenor (29)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr

– Foram tiros certeiros, Samara – diz o estalajadeiro com um brilho de admiração no olhar. – Onde foi que aprendeste a atirar assim?
– Ora! Que mais há para uma rapariga fazer nesta terra?
– Tomar banho! Tomar banho! Tomar banho! – repete o pateta, rapidamente e agitando a cabeça como se fosse um contador.
– Extraordinário! Soberbo! Magnífica lição! – exclama, por sua vez, Lúcio, que chega ao pé deles, todo entusiasmado. – Os golpes hoje aqui vibrados ficarão na memória dos deuses como dos mais viris da história deste rincão!!
– Achas que sim?! – responde Asdrúbal Moutinho, arqueando as sobrancelhas com ar de dúvida. – O Príncipe vai revidar, Lúcio. Isso é que me preocupa.
– Mais uma razão para eu me ir embora! – diz Kli. – Não vos quero causar mais problemas. Amanhã de manhã partirei para Valmenor.
Partiremos! – corrige a rapariga, franzindo as sobrancelhas.
“A decisão dos Heróis era irrevogável” – virá a escrever Lúcio Simplex.

No hemiciclo defronte do templo, Fulvo, ainda atónito, balbucia:
– Incrível!... A filha do Apolinário acertou uma seta no rabo de um deles! E arrancou uma faca da mão de outro!!
Passado um bocado, alguém comenta:
Filha!...  Como se ela pudesse ser filha de cimbalinos!
– Se calhar, pode! Se calhar, é por isso que é maluca e se põe a atirar setas!...
– Sim! Aquilo não é natural!
– Perdão! Há em todo este assunto algo que... – e a conversa prossegue, reincidente.

– Eis ali o nosso amigo Fulvo! – diz Kli, olhando para o hemiciclo. – Parece que já acabou a sua cerimónia religiosa!... É altura de ir falar com ele!
Como se adivinhasse as intenções de Kli, o sacerdote escapa-se para dentro do templo, trancando a porta. Lúcio  ri-se:
Ha, Ha, Ha! Não tirarás nada daquele!...
– A verdade é que nem valeria a pena!... – acrescenta o estalajadeiro. – Bom, vamos almoçar!
– E o que se faz destes dois falcípedes? – pergunta o palerma, referindo-se ao gordo e ao companheiro que batera com a cabeça na árvore, ambos inanimados.
– Esses paspalhões? Que fiquem aí!
Falcípedes?! – pergunta Kli, admirado.
– Não ligues, o Apuleio diz coisas sem sentido!... – replica Samara.
– Falcípedes – recomeça o palerma a recitar –, exâmines, autistas, esquizotímicos, pincéis, volfrâmio ou tungsténio... tudo isto são palavras de significado impecável!
– Ele vai escrever outra vez?
– Nunca se sabe!... – pondera Lúcio. – Mas não, desta vez Apuleio não parece disposto a escrever.
De facto, ele corre para a margem do rio.
– Tomar banho! – proclama, já afastado. E atira-se à água!

Kli e Lúcio caminham em direção à estalagem. Samara e Asdrúbal vão já uns dez passos adiante.
– Porque é que ele, há bocado, se pôs a falar em tomar banho, referindo-se a Samara? – pergunta o cimbalino, apontando-a com um gesto de cabeça.
Lúcio, sem interromper o passo, olha para o palerma, que faz grande espavento dentro de água.
– Porque um dia viu a Samara nua, a tomar banho no rio. Era muito cedo e ela cantava algo ao Sol, que nascia atrás daquelas colinas!... – Aponta para os montes onde se ergue a fortaleza de Carcavel. – O Apuleio reproduziu-me o canto mais tarde, mas eu já não me lembro. Em qualquer caso, ele parece ter ficado muito impressionado com o episódio!...
– Eu também já vi a Samara nua a tomar banho no rio! – diz o puto Aderbal que, como por milagre, surgiu repentinamente ao lado deles. – Não era grande coisa!... – completa ele, com adolescente sabedoria.
[CONTINUA]

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