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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Os Druidas de Valmenor (6)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr


Kli e o homem metem-se a caminho, que entretanto se vislumbra um pouco melhor.
– Repara, a névoa vai-se levantando – observa o homem. – Já agora: o meu nome é Lúcio Mariano Simplex. Mas podes chamar-me simplesmente Lúcio, como os outros.
– Eu sou Kli, filho de Van e de Kli – responde o cimbalino.
E assim vão andando, agora por uma vereda da floresta. Passam por uma bifurcação, sem hesitar já que Lúcio sabe bem por onde vai. A certa altura, um casal de gamos foge à sua aproximação. O homem comenta:
– Aqueles eram o Caramelo e a Amêndoa. Um casal moderno, desembaraçado!... Mas um pouco tímido.
Kli observa os gamos a saltar, embrenhando-se na floresta, logo seguidos de um outro, mais pequeno.
– E aquela é Rosmaninho, a filha deles – diz Lúcio. – Um bebé amoroso.
Prosseguem a caminhada e, finalmente, quando a bruma se desvaneceu quase por completo, atingem a orla da floresta. Defronte deles e muito para baixo, um grande vale, largo entre duas colinas laterais que se desdobram em cumeada, oferece-se à sua vista.
Valmaior! – anuncia Lúcio.

Daquele elevado ponto de observação, virado a poente, a encosta desce para o vale, onde um rio não muito caudaloso traça o seu curso. Um riacho, seu tributário (aquele que Kli seguira durante algum tempo), surde do bosque, afastado e algures à esquerda dos caminhantes, e vai serpenteando por ali abaixo. Para cá dele, uma estrada também às curvas desce para uma aldeia à beira-rio que se avista lá em baixo, a cerca de cinco ou seis quilómetros; das chaminés sai fumo mas não se vislumbra grande movimento, apesar de a manhã já ir alta. No outro lado do rio, em plena encosta de mato rasteiro, há uma edificação redonda, de pedra, à qual conduz um caminho vindo da aldeia e que passa por uma pequena ponte. Parece ser um templo, com uma ara no hemiciclo exterior.
De um lado e do outro, a sul e a norte, elevam-se grandes colinas matizadas em tons de Outono. Pelas vizinhanças da aldeia estende-se terreno cultivado, entremeado de casas e de pequenas hortas onde camponeses se afadigam. Aqui e acolá nas colinas distribuem-se também algumas plantações, incluindo vinhas. Vacas, bois, carneiros e poucos cavalos pastam pelos campos, antes de as encostas se tornarem muito íngremes – ali, nos cimos pedregosos onde só as cabras e os seus guardadores conseguem saltitar. Mais ao fundo, a vegetação adensa-se, reaparecendo uma floresta, que cobre e esconde o chão do vale; nela mergulha o rio, ladeado por uma estrada que sai da aldeia, para só se revelar – ou melhor, adivinhar – esporadicamente. Ao longe, a cerca de 15 quilómetros da aldeia, dir-se-ia pelo alinhamento das árvores que um afluente se junta ao rio, vindo de noroeste, de uma depressão oblíqua à direita. Logo depois, o vale desvanece-se numa série de colinas coroadas por um enorme cabeço que o divide decididamente em dois. Aí, bastante longe, o duplo vale descreve uma curva para a esquerda, desaparecendo da vista atrás de vertentes cada vez mais escarpadas. No ramal esquerdo divisa-se o rio, que prossegue solitário para sul, por entre as réstias de neblina que repousam sobre as faldas rochosas e as copas das árvores. A estrada já não o acompanha.

Quando começam a descer a encosta em direcção à aldeia, o homem despede-se do cimbalino:
– Adeus, amigo. Eu regresso à aldeia mais tarde. Apresenta recomendações minhas ao Asdrúbal Moutinho, o estalajadeiro.
E, assim, Kli prossegue a descida sozinho. A colina é coberta de ervas, arbustos e plantas baixas, e ainda de muitas pedras, por entre as quais circula uma grande diversidade de animais. Kli avista uma lebre, muitos lagartos e lagartixas, um rato e um gato selvagem; adivinha mourões e centopeias a rodearem as pedras, na humidade da terra. Ouve grilos trinarem e o barulho que acompanha os saltos dos gafanhotos. Pressente uma cobra desviar-se do seu caminho. E, como quase sempre nessas horas matinais, no espaço aberto, sente prazer em encher o peito de ar fresco e revigorante, uma sensação de renascer a cada manhã. Um novo dia é quase sempre uma promessa e, nessas circunstâncias, haja o que houver, tudo nos parece ir correr pelo melhor.

Enquanto o cimbalino passa, duas coelhas, um pouco afastadas dele, conversam:
– Ah, minha amiga, o Adalberto é um incansável saltitão!... Está sempre a querer saltar-me para cima! – diz uma, a modo de queixa.
– Quem me dera que o Arnaldo fizesse o mesmo, comadre!... – responde a outra. – mas ele é tão pastelão!…
[CONTINUA]

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