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domingo, 3 de junho de 2012

Os Druidas de Valmenor (3)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr


No nevoeiro outonal que cobre as árvores da floresta alta, baço e luminoso, avança com cuidado a silhueta de um viajante solitário. Ele detém-se, virando-se ligeiramente, como quem procura o caminho certo.
– Acho que já me perdi!... – murmura.
“Um dia surgiu um Cimbalino... o seu nome era KLI VAN-KLI.Chegou à floresta alta numa manhã de espessa bruma.”    
O cimbalino retoma o caminho. Segue pouco depois a margem de um riacho que corre à sua esquerda e no mesmo sentido, por entre pedras e vegetação. Ali perto, um esquilo interrompeu a escalada tronco acima, para cheirar o ar. Parece não se assustar com aquele homem de vestes com feitio bizarro, de pele de corça sobre linho cru, com um chapéu de grandes abas sobre o cabelo castanho e uma capa às costas, sob a qual carrega uma espécie de mochila. As longas pernas, de uma raça andarilha, vão protegidas das canelas até aos joelhos por lã coberta de peles amarradas por largas fitas cardadas. Na mão direita leva um longo cajado reto com inscrições a todo o comprimento. Pequeninas sacolas e uma funda prendem-se à cintura, além de um punhal no flanco esquerdo e de um cantil no direito.
Durante algum tempo, o viajante acompanha o curso de água, até deparar com um obstáculo intransponível: um enorme penedo que se projeta rio a dentro, estendendo-se para terra através de um emaranhado de cardos, e logo uma colina. Trata de rodear tudo isso mas, levado pelos contornos do terreno e pela cerrada vegetação, não tarda que perca o rumor do riacho e se encontre afastado dele, submerso no denso nevoeiro. Para novamente, constatando uma realidade:
– Não há dúvida, perdi-me mesmo!… Isto é muito invulgar!
De súbito, fica alerta, com olhos e ouvidos apurados. «Anda alguém por aí!», diz-lhe um sexto sentido. Num instante, avalia o terreno e sobe uma elevação na qual se ergue uma grande árvore. Cobrindo-se com a sua capa, torna-se quase invisível a um olhar destreinado.
«O melhor é não andar às voltas. Ainda me arrisco a um passo em falso. Ou a um mau encontro!...»
Também um caracol, no chão, se desvia do caminho que seguia, saindo de terreno aberto para a sombra protetora de um arbusto. «O melhor é não andar às voltas», considera o bicho. «Ainda me arrisco a apanhar com um pé em cima!»
E, de facto, justamente onde estava o caracol há um instante, pousa o pé de Kli! A terra treme, à escala do animal, que, após o percalço, quase uma tragédia, parece suar de alívio.
Nesse momento, o cimbalino estaca e abre os olhos de surpresa e susto! De imediato se põe em guarda, empunhando o cajado, porque na colina, seis metros à sua frente, por entre a densa vegetação, um vulto feminino o observa, segurando um arco abaixado. Usa uma túnica clara, sem mangas, cingida à cintura por uma tira de pano bem atada.
– Quem és tu?! – pergunta ele, sentindo um calafrio. Mas, nesse instante, ecoa atrás de si o toque afastado de uma trompa!
[CONTINUA]


Banner: Fotografia de Paulo Rocha, obtida na Internet e digitalmente editada.

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