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domingo, 24 de junho de 2012

Os Druidas de Valmenor (24)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr

Um rapaz entra a correr na estalagem de Moutinho, avisando excitado:
– Asdrúbal! Vem aí um batalhão de gente do Príncipe!
– Um batalhão?! – admira-se o estalajadeiro. – Diabo! Devem andar à procura de Kli!
– Se calhar vêm vingar-se do que aconteceu ontem ao Esturjão! – lembra uma cliente, ansiosa.
O Esturjão? – inquire Moutinho. – É esse o nome dele? Não sabia que conhecias o homem, Lila!...
Lila embaraça-se, deixa cair umas maçãs que pusera numa malga.
– O meu irmão já tinha falado nele! – diz ela, encarnada. – Encontrava-o às vezes nas encostas!
– O que é que interessa onde é que o irmão dela o encontrava?! – resmunga um velho bebedor de cerveja, agitando a caneca. – O que interessa é que já há algum tempo que não tínhamos problemas com o Príncipe; e agora vem aí um batalhão!... Certamente não com boas intenções!
– A culpa é do cimbalino! Foi ele que bateu no outro! – opina um homem gordo, a suar.
– Ainda acabamos por pagar pelo címbalo!... – reclama um quarto cliente, com algum rancor.
– O címbalo, Astolfo?... Tens a boca virada para o insulto – diz o estalajadeiro com um sorriso irónico na expressão grave. – Ainda ontem, se bem me lembro, não te furtaste a chamar nomes ao Esturjão!...
– Chamou-lhe cabrão! – diz o puto Aderbal. E o irmão confirma:
– Pois foi.
Astolfo tem ganas de bater nos miúdos, mas contém-se, à vista do porte do pai. Entretanto, já toda a gente se vira para a porta...
– Que se lixe, tudo isso! – exclama o gordo. – O batalhão é bem capaz de vir para aqui. E eu não quero cá estar quando eles chegarem!
E, numa balbúrdia, precipitam-se todos para a porta.
Um momento! – ordena Moutinho, na sua voz imperiosa, e todos se detêm. Acrescenta ele: – Livre-se alguém de denunciar o paradeiro do cimbalino aos homens do Príncipe. Tratarei eu mesmo de fritá-lo em azeite.
Com a advertência no cérebro, os clientes saem do entreposto e descem a escada num tumulto. Chegados à rua, contudo, param indecisos, olhando para um lado e para o outro; da esquerda, onde ficam as suas casas, virá “o batalhão”. E este, justamente, acaba de entrar na aldeia, passa à porta da oficina do Eslavo, o ferrador, que interrompe o trabalho e os olha de sobrolho louro carregado.
– Para onde vamos? – perguntam-se os clientes de Asdrúbal, receosos.
– A minha casa é para ali – diz um deles, apontando para a esquerda.
– Também a minha! Mas, por ali, ainda damos de cara com o batalhão!
De facto, eles encontram-se perto da entrada oposta àquela por onde chegam os homens do Príncipe, que é do lado da fortaleza, a leste.
– Para o templo! – sugere o gordo, a suar.
– Boa ideia!
– Pedimos ao Fulvo para fazer uma prece! – diz Lila, mais ansiosa do que nunca.
Os fugitivos correm a refugiar-se no templo. Lila deixa cair batatas e fruta. Quando encetam a travessia da pequena ponte, Astolfo reclama:
– Este Asdrúbal ainda nos vai trazer problemas!
– Cartaginês! – responde o velho, ágil nas pernas. – Os Romanos já deram cabo dos da raça dele!
– Esperem por mim! – grita-lhes o gordo.
[CONTINUA]

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