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domingo, 17 de junho de 2012

Os Druidas de Valmenor (17)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr

No torreão, o Príncipe aproximou-se de Javardo e ordena-lhe em surdina:
– Envia uns homens à procura daquele címbalo. Quero-o aos pés da minha cama, amanhã, quando acordar.
Javardo grunhe de prazer, em assentimento.
– Um cimbalino não poderia servir, para a leitura dos presságios? – pergunta o Príncipe aos bruxos, depois de o seu lugar-tenente se ter retirado.
– Bem... talvez – responde um deles, surpreendido. – Mas os cimbalinos têm vísceras estranhas, difíceis de interpretar.
– Pois parece que tereis que vos haver com isso!
Carcavel regressa à janela e olha para fora. Resmunga:
– Já esta manhã saímos para caçar no meio do nevoeiro! Corremos perigo de vida, tivemos enormes trabalhos, tudo isso porque vossas excelências precisavam de um javali!...
– Que quereis, Senhor, não somos nós mas os ritos que têm as suas exigências!...
– Mudai os ritos! – brame o Príncipe, de dentro da sua torre. E, à guisa de argumentação final, acrescenta: – Os javalis rareiam nesta época!

De madrugada, Samara dorme intranquila. Por um instante, o luar velado que penetra pela janela entreaberta é escurecido por um ser voador que a atravessa. É um vampiro, criatura raramente vista em Valmaior desde a funesta nuvem negra que cobriu o céu em tempos remotos e quase inteiramente esquecidos. Depois de descrever um círculo, percorrendo o aposento, o arrepiante bicho baixa sobre a mesa-de-cabeceira, onde, ao lado de uma figura de Ártemis em madeira, brilha o anel de prata de Samara. Vira o horrendo focinho para a rapariga, parecendo estudar o seu rosto com intentos malignos. Arrasta-se na sua direção, com uma espécie de gemido quase inaudível, mas interrompe-se subitamente, alerta. Acaba de detetar Kli, que, tomado de um estranho pressentimento, despertou com um calafrio no mesmo instante em que o morcego entrou no quarto de Samara, subiu a escada e agora, de faca na mão, se aproxima da porta. A vil criatura arreganha os dentes afiados, retrocede desajeitadamente, apodera-se do anel com as garras e levanta voo. Contudo, com a precipitação, deixa cair o anel, que rola para baixo da cama. Samara murmura, como se sujeita a um pesadelo, mas não acorda com o ligeiro ruído porque um bizarro torpor a domina… e o vampiro sai pela janela um átimo antes de Kli abrir a porta.
O cimbalino observa o aposento, onde Samara ainda dorme. A rapariga remexe-se na cama, vira-se para o outro lado e balbucia num sussurro. Com inesperada ternura por ela, Kli fita o seu cabelo espraiado, a forma do ombro que desponta e o volume do corpo sob as cobertas. Nada de extraordinário vê no quarto mas, com novo calafrio, sente instintivamente que algo funesto ali esteve e fugiu.
Não suspeita que um dia, não muito afastado, enfrentará numa caverna a tenebrosa Mãe desse algo.
[CONTINUA]

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