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domingo, 10 de junho de 2012

Os Druidas de Valmenor (10)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr


É Lúcio Simplex que se aproxima.
– Passei por um esbirro do Príncipe, que com os olhos me cortou à navalha.
– Andam à procura de um perigoso assaltante cimbalino – esclarece Moutinho. – Dão bom dinheiro por ele.
– É caso para pensar – diz Lúcio.
– Pois. Mas agora vamos para dentro. Vem tomar um copo para tirar o pó da garganta.
E todos voltam para a mesa, acompanhados pelo recém-chegado.

Do 2º andar do torreão central da fortaleza do Príncipe, o homem grita:
– Javardo!
Alguém repete o chamamento, para o vão da escada, com modos brutos:
Javardo! O Príncipe chama!
Javardo!... O Príncipe! – repete, na base da escada, um cozinheiro que vai a passar com um caldeirão nas mãos.
Javardo! – grita uma velha gaiteira, sentada à porta traseira do torreão, ocupada a depenar uma galinha. – O Príncipe!
– Hem? O quê?! – pergunta o interpelado, surgindo à porta entreaberta de uma estrebaria, levantando as calças. A sua figura bruta corresponde ao animal que lhe dá nome, com olhos pequenos e uma robusta mandíbula provida de salientes caninos, da qual agora respinga saliva.
– O Príncipe está a chamar-te! – avisa um miúdo todo sujo, que luta no pátio com um amigo, ambos empunhando ferrugentos simulacros de espada.
– Que foi, possante javardito? – inquire uma voz feminina, rouca e quente, de dentro da estrebaria.
– Que raio, já um homem não se pode aliviar!... – resmunga Javardo, atravessando o pátio, enquanto aperta as calças.
– É melhor que te apresses, se queres poder continuar a aliviar-te!... – cacareja a velha, com um riso desdentado, quando ele passa por ela, acabando de apertar as calças.
– Vai-te lixar, velha de má sorte!
He! He! He! – ri-se ela, fazendo voar penas da galinha.


– Aqui estou, senhor! – anuncia Javardo, pouco depois.
– Até que enfim! O que andam afinal a fazer aqueles bruxos miseráveis?
– Vou averiguar, senhor.
– Não averigues. Aperta-os! Morde-os! Eles que se apressem, ou só encontrarei os ossos da princesa!... Quero começar a ver resultados... ou não preciso de bruxos para nada! E nesse caso, cozo-os no seu próprio caldeirão!
E Javardo sai apressadamente, subindo a escada que leva ao topo do torreão. Chegado lá a cima, ordena a um soldado que está de guarda a uma sólida porta trancada:
– Abre!
Depois entra no vasto salão superior, ocupado agora por objectos de feitiçaria e observação astrológica. Três magos com aspeto funesto, de longas capas e de cabeça descoberta, examinam-no, por entre alguma fumaça do caldeirão, enquanto ele, com uma firmeza que esconde incómodo ou temor,  anuncia:
– O meu senhor acaba de anunciar uma caldeirada de bruxos, se não tiver respostas brevemente!
– Diz ao Príncipe Carcavel que ainda hoje terá as respostas que pretende – afirma um dos magos, sem se alterar. – Será melhor providenciar uma caldeirada de javali!...
– De preferência com coentros – opina um segundo.
O lugar-tenente do Príncipe retira-se, roendo-se de raiva:
– Haveis de pagar-mas, bruxos de um raio!
– Será necessário um outro javali, para lermos os vaticínios nas entranhas! – diz ainda um mago, atrás dele.
[CONTINUA]

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